Minha vida é pular de hotel em hotel, cada dia em uma cidade diferente. No escritório já tomaram conta da minha mesa, já que por lá apareço pouco. E nessas idas e vindas minhas Havaianas não saem da mala. E as minhas são as tradicionais, feias, desgastadas, porém muito confortáveis. São as mesmas da época do “Não deforma, não tem cheiro e não solta as tiras”. Sinceramente não entendi o “não tem cheiro do slogan”, de qualquer forma não me separo desses chinelos. Aproveito para relembrar outros slogans: “As legítimas”, “Isto é amor antigo” e o atual “Todo mundo usa”. Realmente, somente no ano passado foram vendidos 184 milhões de pares em todo o planeta.
Essas frases refletem bem as transformações pelas quais “a Havaianas” passou ao longo dos anos. Os autores Al Ries e Jack Trout dizem que o posicionamento é a maneira como o produto é percebido pelo consumidor. O principal diferencial competitivo, segundo eles, é se posicionar na mente do cliente. Até há alguns anos a marca estava posicionada na mente do consumidor como um produto barato, prático e confortável, ou seja era um produto popular. Não gosto muito dessas divisões de classes mas Havaianas eram sandálias para as classes “C”, “D” e outras mais em direção ao final do alfabeto. Nesta época o principal garoto propaganda era o humorista Chico Anísio, que ficou tão conhecido, que alguns pensavam que ele era o dono da marca. O humor sempre foi a tônica das mídias das sandálias. Fechando a questão de maneira objetiva, quem usava era pobre. Eu, como tal, desde essa época já era consumidor, como já usei Congas, Kichutes e similares que talvez você nem se lembre.
A sandália surgiu no início da década de 60, inspirada em um modelo japonês feito de tiras em tecido e solado de palha de arroz, por isso na parte interna dos chinelos, os grãos de arroz na textura tornam o produto inconfundível. Mas o que mudou dessa época para hoje nas Havaianas? Mudou a percepção da marca. Houve um reposicionamento, de maneira que hoje Havaianas são sinônimo de qualidade, beleza e conforto, inclusive para os públicos mais exigentes. Atribui-se a Gisele Bundchen a abertura de mercado internacional para a marca através de divulgação espontânea ao utilizar o produto despretensiosamente, mesmo que depois ela tenha feito uma campanha para a concorrente Ipanema. Na TV, Luiz Fernando Guimarães, Malu Mader, Lázaro Ramos, Fernanda Lima dentre outros artistas anunciaram o produto nessa nova era. Vieram novas cores e modelos sazonais, como os dos países da Copa do Mundo por exemplo. No início de 2000 o mundo descobriu Havaianas, inicialmente Havaí, Austrália, França e hoje é consumido em mais de 60 países.
Fazendo parte desse processo de reposicionamento, a marca lançou chinelos mais delicados, especialmente desenvolvidos para o público feminino, rapidamente caíram no gosto das mulheres. Algumas outras ações tiveram grande impacto no crescimento da marca: desde 2003 Havaianas participam do Oscar presenteando os homenageados com modelos exclusivos, e no ano seguinte lançou uma edição especial com acabamento em ouro e diamantes em parceria com a marca H.Stern. Evidente que não encontrei um modelo desses na visita que fiz a uma loja própria da marca recentemente, diga-se de passagem, um espaço bonito, colorido, com atendentes simpáticas e atenciosas, condizente com o que a marca representa no mercado. Mas Havaianas deixou de ser sinônimo somente de chinelos. Vi bolsas, pingentes, toalhas e até meias, especiais para serem usadas com o chinelo. E se mesmo assim você não ficar convencido de que andar de chinelo pode ser chique ou elegante, pode calçar os tênis Havaianas, só não dá pra dizer que são discretos. Coloridos e vistosos seguem a mesma linha alegre e vibrante preconizada pela marca. No meu caso, continuo usando as mesmas, desgastadas e velhas, no banho ou no máximo no hall do hotel.