Quando gostava de usar gravatas, mantinha um estoque de umas duzentas e
cumpria um ritual todas as manhãs. Após o banho e a barba, ao me vestir, ia
à janela e olhava para o céu, para o tempo e conforme eu me sentia no
momento, escolhia a gravata do dia. Dava sempre certo. Havia gravatas para
dias escuros, primaveris, ensolarados, tristes, festivos e, principalmente,
para os dias de grandes momentos. Hoje já não uso mais gravatas com tanta
assiduidade, elas ficam esperando, quietinhas, acho que até suplicando, me
use, me use. Aquele era um ritual bom, pois me ajudava no ajuste do dia a
ser vivido, uma espécie de ponta pé inicial da jornada.
Os romanos tinham uma frase sábia sobre os dias: carpe diem - que quer dizer
aproveite o dia. Poucos de nós sabemos viver com sabedoria os dias que temos
pela frente. Ficamos enclausurados em reuniões, a muados por questões
mesquinhas, de beiço caído porque brigamos com a mulher, amargurados por
desejos não realizados ou pressionados por compromissos inadiáveis. O tempo
vai passando e a soma dos dias acumulados para trás vai se tornando maior do
que a soma daqueles que ainda temos a viver. Quem sabe?
Percebi que com os dias o trato tem que ser o seguinte: adapte-se ao ritmo
apresentado, não queira forçar a barra, porque não vai dar certo. Para os
dias lentos e agonizantes puxe o freio de mão e vá devagar. Para os dias de
sol, saia para o jardim, dê um passeio com o cachorro, cuide das plantas, vá
buscar as crianças na escola. Para os dias chuvosos, fique mais
introspectivo, vá ler um livro ou simplesmente dormir. Para os dias de
outono, olhe para o céu, curta o calorzinho da tarde e encante-se com as
cores do poente. Para os dias escaldantes, alimente-se de maneira frugal,
durma depois do almoço e não saia na hora de maior calor. Para os dias
tumultuados, não entre pânico, fique na sua, observe o burburinho do seu
canto e procure não tomar parte dele. Para os dias apressados, acompanhe o
ritmo, corra, despache, mas se mantenha dono da situação. Para os dias
tristes e melancólicos, entre na tristeza e curta a melancolia. E, como
dizem os caboclos, para os dias aziagos, aqueles em que nada dá certo, em
que tudo é azar, tenha paciência, não faça mais nada, sente e espere o dia
findar. Avançar o sinal será uma péssima idéia. E para os dias de sorte,
abuse dela, porque a deusa da fortuna deve este olhando para você neste
momento, se puder jogue na mega sena.
Assim é a vida, tudo tem a sua cadência e nada tem mais ritmo do que um dia
depois do outro. Eles sempre foram assim e assim será por todos os séculos e
séculos, amém.
cumpria um ritual todas as manhãs. Após o banho e a barba, ao me vestir, ia
à janela e olhava para o céu, para o tempo e conforme eu me sentia no
momento, escolhia a gravata do dia. Dava sempre certo. Havia gravatas para
dias escuros, primaveris, ensolarados, tristes, festivos e, principalmente,
para os dias de grandes momentos. Hoje já não uso mais gravatas com tanta
assiduidade, elas ficam esperando, quietinhas, acho que até suplicando, me
use, me use. Aquele era um ritual bom, pois me ajudava no ajuste do dia a
ser vivido, uma espécie de ponta pé inicial da jornada.
Os romanos tinham uma frase sábia sobre os dias: carpe diem - que quer dizer
aproveite o dia. Poucos de nós sabemos viver com sabedoria os dias que temos
pela frente. Ficamos enclausurados em reuniões, a muados por questões
mesquinhas, de beiço caído porque brigamos com a mulher, amargurados por
desejos não realizados ou pressionados por compromissos inadiáveis. O tempo
vai passando e a soma dos dias acumulados para trás vai se tornando maior do
que a soma daqueles que ainda temos a viver. Quem sabe?
Percebi que com os dias o trato tem que ser o seguinte: adapte-se ao ritmo
apresentado, não queira forçar a barra, porque não vai dar certo. Para os
dias lentos e agonizantes puxe o freio de mão e vá devagar. Para os dias de
sol, saia para o jardim, dê um passeio com o cachorro, cuide das plantas, vá
buscar as crianças na escola. Para os dias chuvosos, fique mais
introspectivo, vá ler um livro ou simplesmente dormir. Para os dias de
outono, olhe para o céu, curta o calorzinho da tarde e encante-se com as
cores do poente. Para os dias escaldantes, alimente-se de maneira frugal,
durma depois do almoço e não saia na hora de maior calor. Para os dias
tumultuados, não entre pânico, fique na sua, observe o burburinho do seu
canto e procure não tomar parte dele. Para os dias apressados, acompanhe o
ritmo, corra, despache, mas se mantenha dono da situação. Para os dias
tristes e melancólicos, entre na tristeza e curta a melancolia. E, como
dizem os caboclos, para os dias aziagos, aqueles em que nada dá certo, em
que tudo é azar, tenha paciência, não faça mais nada, sente e espere o dia
findar. Avançar o sinal será uma péssima idéia. E para os dias de sorte,
abuse dela, porque a deusa da fortuna deve este olhando para você neste
momento, se puder jogue na mega sena.
Assim é a vida, tudo tem a sua cadência e nada tem mais ritmo do que um dia
depois do outro. Eles sempre foram assim e assim será por todos os séculos e
séculos, amém.
É, eu concordo em partes. Infelizmente não dá pra escolher um dia que a gente tá mais calma pra trabalhar por exemplo, ou o dia que tá com sorte, se eu faço isso estou na rua no dia seguinte.rsrs E nem para a mulher escolher um dia de sol para buscar as crianças na escola, acho que isso só serve para os homens mesmo. Se chover "canivete" como dizem ela tem que ir, e mesmo se estiver naquelas "TPMs" bravas de morder parede, lá estará ela. Mas sim, eu concordo que a gente tem que respeitar nosso momento sim, e ir dando um jeitinho de relaxar, respirar fundo quando precisar, ou seja, sempre.rs
ResponderExcluirAbraço