O serviço público é bastante diferente dos serviços comuns prestados pelas empresas privadas ou pelos prestadores autônomos, vez que está subordinado ao coletivo, havendo, portanto, um interesse maior que o interesse individual. Partindo dessa premissa, deveríamos ter serviços de qualidade. Deveríamos ter respeito, cortesia e atenção quando procurássemos tais serviços, concorda? Deveríamos. Não sei se você que está lendo este texto nesse momento já abriu uma empresa, precisou ir a um Pronto Socorro, já solicitou uma ligação de energia ou água. É realmente tarefa árdua. Mesmo alguns sendo prestados por empresas terceirizadas não deixam de ser serviços públicos, transporte coletivo também é um bom exemplo. Naturalmente alguns não poderão ser delegados a terceiros pela sua complexidade ou vinculação direta com a administração pública, entretanto, outros tipos não devem ser prestados diretamente e, por consequência, sempre são transferidos à iniciativa privada, contudo, obedecidas certas condições e normas.
Não quero entrar na questão burocrática que é um grande entrave em muitos de nossos serviços públicos, meu objetivo é enfatizar a qualidade(?) do atendimento das repartições. Afirmo categoricamente que esse problema é crônico. Há algum tempo precisei regularizar um documento na prefeitura da cidade onde está sediado nosso escritório. Reservo-me no direito de não citar o nome da cidade, pois toda vez que cito nomes tenho problemas com supervisores e diretores de tais marcas, tirando satisfações e querendo apresentar-me seus advogados, se é que você me entende. São os casos da Fiat e da Tim “homenageadas” em artigos anteriores meus há algum tempo. Voltando ao tema em questão, fiquei 15 minutos esperando que o bate-papo alegre e descontraído de um grupo de funcionários daquele lugar terminasse para que eu fosse atendido. Estranhamente a expressão descontraída se converteu em uma abordagem áspera quando finalmente uma senhora decidiu vir ao balcão me abordar. “O que quicê pricisa?” Perguntou. “De muita paciência”, pensei. Sou adepto das parábolas e histórias para ilustrar situações e não deixarei de jeito nenhum escapar a oportunidade de contar essa dos “Leões Fujões”.
Dois leões fugiram do Jardim Zoológico. Na fuga, cada um tomou um rumo diferente. Um dos leões foi para as matas, e o outro foi para o centro da cidade. Procuraram os bichos por todos os lados, mas ninguém os encontrou. Depois de um mês, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas. Voltou magro e faminto. Assim, o leão foi reconduzido à sua jaula. Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrou do leão que fugira para o centro da cidade quando, um dia, o bicho foi recapturado. E voltou ao Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde. Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para a floresta perguntou ao colega: - Como você conseguiu ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com saúde? Eu, que fugi para a mata, tive que voltar, por que quase não encontrava o que comer! O outro leão, então, explicou: - Enchi-me de coragem e fui me esconder numa repartição pública. Cada dia comia um funcionário e ninguém dava por falta dele. - E por que voltou então para cá? Tinham acabado os funcionários? - Nada disso. Funcionário público é coisa que nunca acaba. É que eu cometi um erro gravíssimo. Já tinha comido o secretário geral, dois gerentes, três superintendentes, cinco adjuntos, três coordenadores, doze chefes de seção, quinze chefes de divisão, várias secretárias, dezenas de funcionários administrativos e ninguém deu por falta deles!!! Mas, no dia em que eu comi o sujeito que servia o cafezinho... Estraguei tudo!!!
Depois de muitas idas e vindas, evidente que não seria diferente, finalmente consegui retirar o tal documento e ouvi algo que reforça minha teoria acerca da qualidade do serviço. O funcionário apontou para uma pilha de papeis e disse: “São todos casos iguais ao seu, mas como eles não vêm aqui cobrar, vai ficando. Nossa equipe é pequena e o serviço é muito.” Pensei na hora no grupo de funcionários que estavam à toa na outra seção, quando na minha primeira ida naquele local, meses antes. Lembrei ainda de todos os computadores que vi conectados às Redes Sociais e sites de futilidades, nas diversas vezes que lá me encontrava em busca do imprescindível documento. Não me queiram mal os bons profissionais do setor, mas... “tem jeito não”. Estou pensando seriamente em mandar nossos queridos Leões para uma visita lá.
Infelizmente esse e o nosso Brasil....
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