sexta-feira, 26 de março de 2010

Passei no vestibular e daí?

Lembro-me que muitos anos atrás, quando passei no vestibular, meus amigos, familiares e até conhecidos ficaram eufóricos. Se muitos analisam o segundo lugar como aquele que quase chegou lá, imagine o décimo quarto. Mas naquela época, era realmente algo significativo, vestibular super concorrido, muitos cursinhos, meses de preparação e quem entrava para a faculdade era muito festejado. Mas a busca desesperada do Brasil por um melhor posicionamento no Índice de Desenvolvimento Humano – IDH mudou completamente esse cenário. Uma boa colocação no IDH é um agregador de valor à credibilidade da nação junto à comunidade internacional, e a escolaridade da população é de supra-relevância na medição do Índice.

Por isso mesmo, me chamou atenção hoje ao descer para o escritório, um trote no meio da rua, tão tradicional há vários anos, mas aqui para os nossos lados já está fora de moda. Os veteranos observavam de longe enquanto os calouros tinham a árdua missão de arrecadar 300 reais. Fiquei sabendo da quantia por que parei para perguntar. Um dos que lá estava me abordou da seguinte maneira: “Uma ajudinha aí, por favor, precisamos conseguir a grana pros caras lá”. E se você não conseguir? Questionei. “Eles vão tirar nossa roupa, raspar nossa cabeça, fazer o escambal”. De fato, mais acima havia um calouro amarrado a uma estrutura de semáforo, todo pintado, cabeça raspada e só de cueca. Aí perguntei outra vez: E aqueles amarrados? “Véi, desistiram antes da hora”. Deixei meu assustado entrevistado, depois de contribuir com dois reais, e prossegui, Mais adiante ainda vi uma garota com cabelo somente em um dos lados da cabeça, apesar de estar de roupas, a tinta cobria quase todo o corpo.


Não questiono a brincadeira do trote, que é cultural. Mas existe algo a se comemorar? Há motivo para tanto? Não, não há. Mesmo a concorrência continuando acirrada nas Universidades Federais, “pipocam” faculdades pelas esquinas. Hoje em dia faltam candidatos para tantas vagas disponíveis. O vestibular que acontecia uma vez ao ano, passou a semestral e agora é trimestral em muitos lugares. A qualidade dos cursos é ínfima, estão totalmente nivelados por baixo. Como se não bastasse, todas essas faculdades ainda enfrentam a concorrência do sistema de Ensino à Distância, o chamado EAD. Não estou questionando especificamente o método EAD, que já tem recebido críticas o bastante, inclusive acredito que é uma tendência. Minha análise é generalizada. Alunos saem das faculdades com o diploma, cometendo erros de escrita e de fala dignos de serem re-matriculados na antiga sexta série. Não é exagero. Essas frases de vestibulares que circulam pela internet, são muito mais comuns do que se imagina. Por isso quando recebo frases do tipo: “As glândulas salivares só trabalham quando a gente tem vontade de cuspir”, ou, “Os analfabetos nunca tiveram chance de voltar à escola”, sinceramente não me surpreendo. Mais duas para finalizar: “A capital de Portugal é Luiz Boa”, “A terra é um dos planetas mais conhecidos do mundo”. Onde é que eu estou mesmo?

3 comentários:

  1. Meu caro amigo e companheiro Reginaldo,

    Parabéns pelo blog (conteúdo perceptivelmente inteligente) e pelo trabalho. Abraço fraterno,

    Alisson Diego

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  2. Muito boa a sua abordagem sobre esse tema.

    A Educação em nosso país esta jogado as traças, mas o importante é o diploma não é? Estudei e me formei com colegas que estavam na universidade graças a livre e espontânea pressão das empresas! O importante não era de fato eles "aprenderem" sobre o conteúdo do curso, mas sim comprovarem a conclusão, questão de indicadores entende!

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  3. Continuando!
    Esse comportamento esta tornando as relações empresas/colaboradores em algo, muito mais muito distante uma vez que basta algum diploma apresentado para continuar ativo, em consequencia não se dá valor nenhum a quem de fato estuda sério na objetividade de contribuir para o crescimento, talvez por isso que as empresas estão carentes de profissionais, os que desenvolvem um nível elevado de conhecimento consistente, geralmente trabalham fora do país ou então preferem trabalhar por conta, e aqueles que aqui estão, pouco investem na formação desses futuros profissionais. O Brasil tem umas coisas meio estranhas, as empresas querem aumentar seus lucros sem investirem na educação, que coisa insana de se ver.

    "É a privatização dos lucros contra a socialização dos prejuizos"

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